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quarta-feira, 1 de junho de 2011

É ASSIM QUE SE MATA A SAUDADE


Escutei o assobio da chaleira
Na velha canção do pago,
Já estou voltando ao galpão
Onde os cepos estão arreglados;
A seiva que une os amigos
Ali passa de mão em mão
É a hospitalidade campeira
Servida na cuia de chimarrão.

É sempre nesse cenário
Que a tertúlia começa,
São prosas, cantorias...
Carreteiro feito, sem pressa;
Temperado ao som de gaita,
Por vezes, uma pitada de violão,
Acompanhado da inimiga da tristeza,
A canha buena do borrachão.

Quando o sanfoneiro cansa
Os causos são contados,
Entre uma e outra patacoada
A noite vai fluindo,
São assim as noites de primavera,
Porque se o Minuano bate na porta
Os viventes emudecem mais cedo,
Antevendo o frio que vem zunindo.

O fogo está quase extinto...
Escuto a história do fantasma,
Aquele que só se apresenta
Pra quem não tem fé e nem alma.
Dizem que nas noites escuras,
Aquelas escuras que nem breu,
Quem quiser cruzar o passo
Tem que rezar e acreditar em Deus.

Pouco a pouco a madrugada
Vai tomando conta do recinto,
Alguns se ajeitam nos pelegos,
Outros vão se despedindo...
O tropel do cavalo rompe o silêncio,
Grita o sentinela quero-quero,
O dia vem se apresentando,
O galo desperta aos berros.

Neste ambiente rústico
Perfumado pela fumaça,
Cheirando a café preto
Queimado a brasa,
Só o cusco que é juvenil
Tem o latido estridente,
No resto é um relógio sem corda,
Marcando as horas de ontem
E ajoujado ao presente.

É assim o recanto de tradição...
Revive-se as páginas da história,
A chama do candeeiro
Alumia os tempos de glória,
É o Rio Grande de pé
Que não se achica, não se humilha,
Uma bandeira que ostenta
A bombacha maltrapilha.

Lajeado, 25 de março de 2003.
Luiz de Castro Bertol

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